Missão Belém
Imagem: Welinton Moraes
Desde 2005, a comunidade católica Missão Belém resplandece como uma estrela na escuridão, inspirada pelo mistério de Belém: “Jesus que nasce pobre no meio dos pobres, numa mísera gruta, acolhido com carinho por Maria e José”.
Missão Belém na Cracolândia de São Paulo, no bairro Santa Efigênia, no ano de 2021(Arquivo pessoal/Missão Belém).
Conforme dados divulgados no ano de 2023 pela instituição, ao longo de 20 anos, mais de 80 mil vidas foram transformadas, muitas delas pelas mãos de ex-irmãos de rua restaurados, que hoje vivem como missionários.
Atualmente, a Missão Belém oferece abrigo a 2,3 mil pessoas, incluindo 600 doentes crônicos, espalhando esperança onde antes havia desamparo.
Guiada pelo lema “quando Deus entra, a droga sai”, a Missão Belém se reafirma como uma rede de apoio espiritual, não uma clínica terapêutica. Desde 2022, essa abordagem tem gerado um índice de recuperação de 60% entre aqueles que, ao abraçar a espiritualidade proposta, encontram forças para reescrever suas histórias, deixando para trás a dependência e o abandono.
Visão do décimo segundo andar do prédio Projeto Nova Vida (Reprodução/Welinton Moraes).
Voluntários na missão
Nesta comunidade, uma das voluntárias que está frequentemente nas ações da pastoral de rua é Simone Aparecida Fernandes, natural de São Paulo e que carrega consigo o desejo de ajudar os pobres por meio de sua ajuda. Além da Missão Belém, participa de ações da Aliança de Misericórdia e da Toca de Assis.
Simone Aparecida
Simone participando de ações voluntárias nas comunidades católicas (Arquivo pessoal/Simone Aparecida).
Segundo dados da instituição Missão Belém, diariamente cerca de 50 pessoas em situação de rua aceitam o convite ou procuram espontaneamente acolhimento. Para a Missão Belém, a restauração significa tanto uma cura interior, que lida com mágoas acumuladas ao longo da vida, quanto uma cura exterior, enfrentando os danos físicos e emocionais associados à vida nas ruas. Conforme o levantamento mais recente da instituição:
Fonte: Missão Belém, 2021.
A missão de acolher
O trabalho da Missão Belém começa com a Pastoral de Rua, que leva voluntários para cenas de uso de drogas e locais de vulnerabilidade social em São Paulo.
Todos os dias, de segunda a domingo, entre 9h e 17h, equipes de voluntários visitam a Cracolândia para oferecer suporte dentro da Cracolândia.
A maioria desses voluntários já morou nas ruas, inclusive na Cracolândia, e hoje se dedicam a dar o suporte que um dia receberam. A instituição conta com 150 casas de acolhida em SP.
Imagem: Gabriel Fernandes
Gabriel Fernandes, é um dos acolhidos pela Missão Belém, e é um exemplo inspirador de superação e transformação. Ele compartilha, com muita emoção, sua jornada de vida nas ruas para um novo começo, graças ao apoio e acolhimento que recebeu da comunidade católica Missão Belém. Gabriel sabe o que é estar no fundo do poço, mas também conhece a força da recuperação e do recomeço incentivado por pessoas que estavam na mesma situação em que se encontrava.
Esse novo recomeço, fez com que ele continuasse a dedicar-se a ajudar outros a passar pela mesma transformação, com o objetivo de resgatar vidas como um dia foi resgatado. Sua história é um testemunho poderoso de esperança e de como a solidariedade pode transformar realidades.
Eu sei o que é estar ali na Cracolândia, mas também sei o que é ser resgatado. Agora, meu trabalho é fazer isso com outros
- Gabriel Fernandes
Imagem: Welinton Moraes
Como funciona o acolhimento
Chamado de Projeto Nova Vida, localizado na Praça da Sé, no Centro de São Paulo, o prédio de 10 andares serve como um local de primeiro acolhimento aos irmãos que se encontravam nas ruas e no uso de substâncias químicas.
Para que ocorra o primeiro contato com os acolhidos, existe a Pastoral de Rua, realizada diariamente por coordenadores da casa.
O espaço oferece cuidados essenciais, como higiene, roupas limpas, alimentação, descanso e acompanhamento de saúde, tanto para mulheres quanto para homens.
É também nesse momento que os “hóspedes”, termo utilizado para as pessoas que são resgatadas e chegam à casa por opção, começam a ser introduzidos à espiritualidade da Missão Belém.
Imagem: Welinton Moraes
Essa rede de apoio é uma forte aliada no processo de reintegração por meio da religião, aqueles que são coagidos com a vulnerabilidade aprendem que as drogas não são necessárias para sua rotina diária.
Foi assim que Ítalo Rebouças aprendeu por meio de um sacerdote a encontrar um novo sentido em sua vida. No mundo do crime, ele disse que durante seu tempo na Cracolândia de São Paulo, cometeu delitos para permanecer na área, mas quando sentiu o chamado da Missão Belém não teve como fugir.
Foi dez anos de luta tentando me tirar de lá
- Ítalo Rebouças
Conforme ítalo, após esse primeiro período de passagem nas casas de recuperação, os indivíduos acolhidos podem escolher se tornar “aspirantes” e, como resultado, se tornar voluntários no movimento. Essa transição envolve uma preparação espiritual que pode durar até seis meses.
ítalo Rebouças
A experiência das casas de acolhida
Inspiradas na fé católica, as casas de acolhida da Missão Belém são pequenas “Igrejas familiares”. Nelas, os moradores encontram um ambiente de acolhimento e reflexão religiosa, com liberdade para decidir seus próximos passos.
Os voluntários também desempenham um papel fundamental, acompanhando os acolhidos em atendimentos médicos, como familiares próximos. Afinal, como reforça a Missão: “somos uma família para quem não tem família”.
Transformação em movimento
A Missão Belém não se apresenta apenas como um lugar de passagem, mas como um verdadeiro movimento de transformação, onde quem é acolhido se torna acolhedor. Uma corrente de fé e solidariedade que segue fornecendo apoio a vidas e provando que, onde há espiritualidade, há esperança.
Essa comunidade mantém suas ações através da providência e da generosidade de pessoas e empresas que compartilham da mesma visão e acreditam que é possível ajudar os pobres, por meio da palavra de Deus. Ajude essa instituição a continuar a ser rede de apoio, acolhendo pessoas que se sintam impactadas pela missão diária da Missão Belém.
Marina Lúcia já enfrentou diversas recaídas e, hoje, se
mantém ressignificada, ajudando outras pessoas
a descobrirem um novo propósito na vida.